Como perder o medo de colaborar nas empresas?

Por Kleiton Reis, Editor do blog e da revista Cultura Colaborativa e Coordenador de Marketing na SocialBase

Colaboração nas empresas. Essa pequena frase já fez você tremer?

Em muitas empresas existe o medo de incentivar a colaboração interna. Isso reflete, por exemplo, na constante aquisição ou manutenção de canais de comunicação que visam apenas informar e que não dão espaço para o colaborador falar e dar sua opinião sobre assuntos estratégicos para a organização. Mas por quê?

Sobre o tema conversamos com a Coach e diretora da Firmamento Consultoria Organizacional, Pamela Seligman, que tem ajudado diversos executivos de empresas de toda a América Latina a entenderem o papel da comunicação na criação de sustentação de uma cultura de alta performance. Nosso encontro com Pamela aconteceu durante o Seepix Sharing Experience, em junho de 2017 na cidade de São Paulo.

Cultura Colaborativa: A colaboração ainda é estigmatizada dentro das empresas. Há a ideia, por exemplo, de que ferramentas sociais, como as Redes Sociais Corporativas, mais atrapalham e tiram atenção do que ajudam as pessoas a serem produtivas e melhorarem performance. Isso gera medo nas empresas em adquirir plataformas sociais e também de incentivarem a colaboração interna. Como as empresas podem perder esse medo?

Pamela: As empresas costumam ver plataformas sociais, como as Redes Sociais Corporativas, como concorrentes da produtividade, mas deveriam vê-la como uma ferramenta que podem utilizar, de forma controlada e moderada, para estratégias que são interessantes para as próprias empresas, como a colaboração para gerar inovação. Para perder o medo, as empresas precisam tratar esse canal como uma ferramenta de comunicação interna e não como um benefício para os colaboradores, em que eles podem fazer o que quiserem.

Precisa ter uma estratégia para o uso deste canal. Por exemplo, quando uma empresa compra uma frota de carros e entrega a seus funcionários, ela o está comprando para uso corporativo e não para uso pessoal, e o mesmo deve acontecer nesse tipo de aquisição.

CC: Nesse caso, o que significa moderação?

Pamela: As empresas não têm necessidade de controlar ou moderar tudo o que acontece na ferramenta, para que os funcionários possam ter liberdade e se sintam à vontade para participar e então colaborar. As empresas precisam saber que, a apesar do nome da ferramenta, elas têm sim algum controle sobre o canal, e que elas só precisam ser estratégicas e direcionar a colaboração para o que precisam. Podem adotar uma posição de 80×20, por exemplo, ou seja, 80% do que deve acontecer na ferramenta deve ser colaboração para interesses da empresa e só 20% para interesses pessoais. As empresas podem fazer essa limitação, e os colaboradores vão entender, porque eles já têm as redes sociais pessoais deles para usarem como quiserem. Então, é preciso que as empresas, ao adquirirem essa ferramenta, expliquem que ela não é para qualquer tipo de integração ou colaboração, mas para aquelas que estão a serviço da empresa.

CC: Tudo então depende do objetivo da rede e do modo como a empresa implementa a ferramenta?

Pamela: Sim. Se a empresa compra a rede com o objetivo de tirar as pessoas do Facebook apenas, mas sabe que os colaboradores precisam ter um lugar social para se integrarem e que seja controlado pela empresa, então tudo bem as pessoas fazerem integrações pessoais por essa rede.

Mas se o objetivo é ter um espaço para criatividade e inovação a serviço da empresa, então não cabem grupos de assuntos pessoais. É importante, então, a empresa saber o que necessita, para que ela molde o uso da ferramenta a sua necessidade de negócio, trazendo a colaboração como um ato de construção de rede onde cada um faz uma contribuição em busca de um objetivo da empresa.

CC: Como a colaboração pode ajudar as pessoas a terem alta performance e produtividade?

Pamela: Quando a gente falar de alta performance, devem estar claros os objetivos, as metas, as métricas etc., e a colaboração deve vir atrelada a esses fatores. A colaboração deve existir para o time ganhar a Liga dos Campeões, por exemplo, e não todo e qualquer campeonato do mundo e mais a “pelada” do domingo.

CC: Como equilibrar o desejo da empresa para que a ferramenta seja usada para uma colaboração estratégica, com vistas a atingir um objetivo ou meta de negócio, com os valores e objetivos pessoais dos funcionários para que eles queiram colaborar?

Pamela: As pessoas colaboram genuinamente quando o objetivo da colaboração está alinhado aos valores delas. Na verdade, nenhuma pessoas deveria estar trabalhando em uma empresa em que os valores sejam contrários aos seus próprios.

As pessoas precisam pensar “eu vou dar o exercício da minha profissão, vou dar meu tempo, vou dar algo de mim porque eu acredito nessa causa”. Mas para isso, as empresas, para fazerem com que seus colaboradores acreditem na causa delas, precisam entrar no campo da avaliação do desempenho, do reconhecimento e da recompensa, que não precisa ser monetário, mas valorizar condutas, comportamentos, processos, decisões que estão alinhados com os valores da empresa.

CC: Como reconhecer sem que haja necessariamente uma recompensa financeira?

Pamela: A empresa pode fazer isso por meio da comunicação interna. Por meio da comunicação, a empresa precisa dizer “nós valorizamos pessoas que colaboram, porque quando elas colaboram nós damos melhores condições de trabalho, por exemplo”. Isso precisa estar explícito na comunicação. As pessoas são naturalmente colaborativas, mas elas desaprendem a colaborar.

Elas podem voltar a colaborar se o objetivo da colaboração estiver alinhado aos seus valores e a comunicação é uma ferramenta importante para deixar isso claro aos colaboradores, independente do canal que ela queira utilizar. Somente depois que a empresa conseguir fazer essa conexão entre seus valores com os valores dos colaboradores é que ela vai ter sucesso na colaboração. Em resumo, elas colaboram quando são reconhecidas e quando crescem em consciência, porque isso as tornam mais humanas, e é do ser humano colaborar.

CC: Mas às vezes a comunicação interna nas empresas é muito reativa, e não consegue ser estratégica suficientes para chegar ao ponto de comunicar para esse tipo de alinhamento cultural e estratégico. Como as empresas podem sair de um patamar reativo para um estágio estratégico?

Pamela: Isso passa desde a seleção da pessoa que vai cuidar da comunicação até o envolvimento dela na estratégia de negócio da empresa. Esse é um campo que a empresa tem controle. Em muitas empresa que eu já dei consultoria quem tocava de fato a comunicação interna era um estagiário ou o trainee. Será que as empresas deixariam as finanças ou a força de vendas da empresa nas mãos de um estagiário? Com o devido respeito aos estagiários, mas falo por uma questão de prática e experiência profissional mesmo para lidar com áreas estratégicas.

Aí a comunicação acaba sendo aquela apenas informativa, por exemplo, em que é responsável apenas por avisar sobre o bolinho dos aniversariantes do mês, reparos no prédio etc., e isso não é estratégico. Portanto, é preciso de pessoas com experiência, grandes contadores de história, que saibam capitalizar passado e construir futuro na frente da comunicação interna. Ou as pessoas que já estão lá precisam mostrar que são capazes disso, precisam sentar na mesa de discussões da diretoria, ao lado de Vendas, Marketing, Finanças, Jurídico, ao lado das pessoas estratégicas da empresa. A comunicação precisa de pessoas que pensam as ações alinhadas com a estratégia da empresa.

Que nas reuniões de diretoria escute tudo e depois sente com o presidente e com os demais diretores e diga “qual é a mensagem que vamos dar em relação a esse, esse e esse tema?”. Eu digo isso porque alta performance, gestão de crises e mudanças, tudo o que fazemos como seres humanos, inclusive dentro das empresas, está baseado em comunicação, e se os comunicadores das empresas não se atentarem a isso não será possível ter uma comunicação estratégica.

  • Pamela é sócia fundadora da Firmamento Consultoria Organizacional, pedagoga formada pelo Instituto Juan Bautista Alberdi, de Buenos Aires. Com mais de 20 anos de experiência.

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