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Especialista aponta como a inovação é essencial para o sucesso às empresas

A inovação é intimamente ligada ao desejo de mudança, isto é, a busca por algo novo que satisfaça uma necessidade pessoal ou empresarial. Entretanto, segundo pesquisa, muitas empresas ainda não entenderam que o processo de inovação é benéfico e todos na corporação devem estar envolvidos a ele.

Para Fernando Gimenez, Prof. da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Coordenador de Empreendedorismo e Incubação de Empresas da Agência de Inovação da UFPR, o processo de inovação causa impactos que se distribuem por toda a empresa, ou seja, caso não haja o envolvimento de todos, podem surgir resistências a implantação, devido ao desconhecimento das vantagens agregadas.

Em entrevista ao Cultura, Gimenez destaca alguns conceitos de inovação e discorre sobre a importância em quebrar alguns paradigmas surgidos ao identificar a necessidade de mudança nas organizações.

1 – Segundo pesquisa, 28% dos profissionais alegam que processos de inovação não passam por eles, enquanto 36% afirmam que apenas alguns setores têm essa possibilidade. Na sua opinião, qual o prejuízo à empresas que mantêm essas atitudes?

Fernando Gimenez – O processo de inovação, em geral, causa impactos que se distribuem sobre todas as unidades de uma organização. Dessa forma, é importante que haja o envolvimento da maior parte dos colaboradores da empresa na concepção e implementação de processos ou produtos inovadores. Caso isso não ocorra, o principal prejuízo que pode surgir é a possibilidade de resistências à implantação das mudanças que surgem em qualquer processo inovador. Essas resistências podem levar a demoras na implantação acarretando menor eficiência e maiores custos às empresas. A resistência às mudanças causadas por inovação quase sempre surgem devido ao desconhecimento das pessoas sobre suas vantagens e benefícios, bem como por medo ou insegurança sobre os efeitos que as mudanças terão sobre as rotinas de trabalho. Isto evidencia a importância da liderança das empresas em buscarem o envolvimento do maior número possível dos profissionais que trabalham nas mesmas.

2 – A inovação ainda é tida como uma barreira pelas empresas?

Fernando Gimenez – A inovação pode ser vista como uma barreira pelos gestores das empresas porque esta, em geral, demanda recursos físicos, financeiros ou de conhecimento que nem sempre estão disponíveis nas empresas.

3Essa barreira é cultural? Como revertê-la?

Fernando Gimenez - É provável que haja um componente cultural na percepção da inovação como uma barreira de difícil transposição pelas empresas. Uma forma de superar as dificuldades de inovar reside na realização de esforços cooperativos com  outras organizações, sejam elas concorrentes, fornecedores, ou distribuidores. No entanto, a cooperação entre empresas exige a superação de desconfianças e a adoção de comportamentos que levem ao compartilhamento de recursos e conhecimento.  Isso leva à  noção de co-criação de valor, por meio da inovação, que implica em uma propriedade compartilhada da inovação. Mas, em muitas organizações, há um predomínio de um espírito competitivo muito acentuado, acarretando comportamentos egoísticos que tornam difícil a cooperação. A superação desses comportamentos pode ser feita por meio da demonstração de como a cooperação traz resultados positivos para todos os envolvidos que são, quase sempre, maiores que os obtidos em esforços individuais.

4Como os líderes devem encarar o processo de inovação?

Fernando Gimenez – Hoje em dia há uma pressão muito forte para que a inovação tenha um caráter central na estratégia das organizações. Os líderes tem o papel de orientar a formação e execução das estratégias das empresas. Portanto, em primeiro lugar, os líderes devem constantemente reforçar junto aos colaboradores da empresa a importância da inovação para o sucesso empresarial. Além disso, os líderes devem se esforçar na criação de um ambiente de trabalho que seja estimulador da inovação. Tudor Rickards e Susan Moger, da Manchester Business School na Inglaterra, desenvolveram um modelo denominado de Liderança Criativa que sugere que os líderes das empresas devem auxiliar as equipes de trabalho a superarem algumas barreiras de comportamento no desenvolvimento e implantação de inovações nas empresas. Para esses dois pesquisadores ingleses, com quem tive a oportunidade de estudar nos anos 90 quando fiz meu doutorado na Manchester Business School, os líderes devem atuar de forma a estimular os colaboradores da empresa a compartilharem conhecimento e desenvolverem uma visão comum de quais são os objetivos a serem atingidos, devem desenvolver um espírito de equipe e de colaboração entre os membros da organização de forma que sejam capazes a desenvolver ideias inovadoras a partir de suas competências, fomentar um comportamento resiliente aos empecilhos e a busca de conhecimentos e recursos externos por meio de redes de contatos (networks). Por fim, é papel dos líderes incentivar a constante reflexão sobre erros e acertos nos processos de inovação.

Uma forma de superar as dificuldades de inovar reside na realização de esforços cooperativos com  outras organizações, sejam elas concorrentes, fornecedores, ou distribuidores.

                  

5 – A inovação é muitas vezes encarada por executivos apenas como a inserção de novas tecnologias na gestão, isso é errado? O que realmente é inovação?

Fernando Gimenez – Na verdade, a inovação é muito mais do que a inserção de novas tecnologias na gestão. Há muito tempo existe um consenso entre os estudiosos da inovação nas organizações que esta pode se manifestar em diferentes facetas das organizações. A inovação pode se dar em produtos ou serviços que são oferecidos aos mercados; pode ser vista em novas formas de realizar tarefas dentro das empresas (processos produtivos e gerenciais); pode ser na busca de novos mercados para produtos existentes; pode se materializar no desenvolvimento e aplicação de tecnologias em produtos e processo; e pode ser, ainda, inovação em modelos de negócios, ou seja, alterações na forma como as empresas se relacionam com o mercado.

6 – Novas tecnologias facilitam cada vez mais o processo de trabalho e com isso trazem ao mercado colaboradores mais preparados para lidar com elas, e com novas perspectivas de mercado. Segundo um estudo da Oxford Economics, realizada em 2014 com 2.700 executivos, apenas 39% dos entrevistados se diz preparado para esse novo profissional. Como isso pode interferir no mercado? E no Brasil, você acredita que as empresas estão preparadas?

Fernando Gimenez – Esse é um dado que eu não conhecia. Realmente, a falta de profissionais que se julguem competentes para lidar com a inovação pode acarretar dificuldades para as empresas em incorporarem a inovação em suas estratégias de negócios. No Brasil, ainda são poucas as empresas que realizam esforços de inovação constante. O IBGE realiza a cada dois ou três anos uma pesquisa sobre as atividades de inovação das empresas brasileiras (PINTEC). Os últimos dados disponíveis referem-se ao ano de 2011 e revelam que, entre 2009 e 2011, apenas 35,7% das empresa com mais de dez empregados implantaram produtos novos ou  significativamente aprimorados em seus mercados. Ou seja, em termos de inovação de e produtos ou processos, quase dois terços das empresas ainda não estão envolvidas com a inovação. Este fato, reforça a necessidade de esforços cooperados entre empresas, universidades, institutos de pesquisa e governos no financiamento e execução de atividades que transfiram conhecimentos e tecnologias disponíveis nos laboratórios científicos para o setor produtivo.

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